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O Futebol nos Emirados Árabes

FUTEBOL E O MUNDO

Emirados Árabes, ou melhor  دولة الإمارات العربية المتحدة, é uma federação de 7 estados localizada no Oriente Médio. O país que ganhou sua independência do Reino Unido em 1971, é fortemente capitalizado pelo petróleo, possui peculiar atenção para as oportunidades do futuro e um crescente interesse pelo futebol.

Afiliada com a FIFA desde 1972, a federação nacional de futebol (uma das classificadas para a Copa de 1990 na Itália), conquistou a Copa do Golfo 2007 e atualmente é a 99a colocada no ranking mundial da FIFA. A liga nacional ainda é relativamente fraca, com apenas 26 times de futebol profissional, baixa qualidade técnica e baixo público nos estádios. Entretanto, jogadores como Valdivia, Rafael Sóbis, Fernandão e o técnico Abel Braga vem sendo contratados para alavancar o nível da liga nacional.

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Apesar do nível atual de desenvolvimento do futebol, a importância do esporte vem crescendo nos Emirados, impulsionada pelo apoio do governo e suportada pela ampla reserva de capital do país. O primeiro marco do futebol no território foi em 2003, quando o país foi sede do Mundial Sub-20 da FIFA. Na ocasião o presidente da entidade, Joseph Blatter, chegou a ser condecorado pelos seus esforços ao servir o mundo do futebol com a Medalha Zayed, maior reconhecimento do país e normalmente oferecida apenas a chefes de estado. Na verdade, o que a medalha e o mundial realmente representavam era o grande esforço dos Emirados Árabes em ganhar a confiança da FIFA para seus futuros projetos.

Internamente o país possui potencial para o desenvolvimento do interesse em futebol. Segundo a Central de Inteligência Americana, um total de 88% da população é urbana, a proporção do sexo masculino chega a ser acima do dobro da população feminina, e o GDP é de U$37 000 per capita. Essas características constroem um potencial público consumidor que com os devidos incentivos pode fazer o futebol rapidamente ultrapassar o críquete como esporte nacional.

No desenvolvimento dos Emirados Árabes e do futebol no país, uma cidade possui papel fundamental. Dubai vem sendo planejada e construída em ritmo acelerado desde da década de 90 e é considerada uma fusão entre o Ocidente e o Oriente. Com projetos grandiosos como a construção de ilhas artificiais, a maior ponte de arcos do mundo e um hotel 7 estrelas que custou US$ 1,5 bilhão, Dubai parece ignorar a crise de crédito mundial para criar uma paisagem urbana do futuro. A crescente evolução da cidade ao longo das décadas pode ser conferida nas imagens de satélite tiradas pela NASA.

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Talvez o projeto mais ambicioso de Dubai seja a Dubai Sports City que vem sendo construída por investidores junto ao projeto Dubailand da Dubai Tourism Project Development Company. Com um investimento que gira em torno de U$ 2 bilhões, o projeto planeja construir o maior centro esportivo do mundo até 2011. A extensa área compreenderá pistas artificiais de ski, campos de golfe, academias, estádios para críquete, hóquei, e é claro, um estádio com capacidade de 60 0000 pessoas para ser usado para o futebol. O complexo contará ainda com residências, comércio e escritórios para empresas ligadas ao esporte. Para o futebol, o objetivo do projeto é sediar grandes eventos, amistosos internacionais e criar um ponto turístico para os apaixonados do futebol espalhados pelo mundo. Além disso, as instalações servirão para realização de pré-temporadas além de uma academia de futebol permanente do Manchester United. A Dubai Sports City terá ainda o direito de comercializar a marca do clube inglês nos Emirados Árabes em projetos de treinamento e desenvolvimento do futebol. Em paralelo aos objetivos, existe a intenção de utilizar a estrutura para desenvolver o futebol local e atingir um possível mercado interno.

Dubai Sports City

Dubai Sports City

Antes mesmo da Dubai Sports City ficar pronta, os Emirados Árabes já começam a se inserir no mercado mundial do futebol. No início de 2009 o AC Milan estará no país realizando um tour patrocinado pela Emirates Airlines (patrocinadora de clubes como o Arsenal e PSG) e participará do Dubai Football Challenge 2009, um evento anual que no ano passado contou com a presença do clube brasileiro Vasco da Gama, as seleções da China, dos Emirados Árabes  e o atual campeão do torneio, o clube alemão Hamburgo SV. Também anualmente é realizada a Dubai Cup, amistoso internacional através do convite a clubes internacionais com recentes conquistas de peso. Se não bastasse, os Emirados Árabes também serão palco do Campeonato Mundial de clubes da FIFA em 2009 e 2010. Essas medidas possuem iniciativa e esforço de de Mohamed Rumaithi, presidente da Associação de Futebol dos Emirados Árabes. Recentemente, Rumaithi também foi o responsável por lançar a candidatura do país para abrigar a sede da AFC, Confederação Asiática de Futebol.

Outras medidas como a recepção de convenções voltadas para o futebol, a promoção regular de torneios em escolas e faculdades e a doação de ilhas para personalidades como Pelé, vem sendo utilizadas para aproximar as relações de Dubai com o futebol. Pensando nisso, já existem empresas de marketing esportivo situadas na cidade, como a Sport Solutions, que dentre outros projetos organiza o Masters Football, espécie de showbol brasileiro que reúne marcas como Liverpool, Manchester United e Chelsea, e empresas de planejamento de arenas como a Edara, responsável pela reforma de diversos estádios espalhados pelos Emirados Árabes.

Torcedores durante partida de futebol nos Emirados Árabes: http://uk.youtube.com/watch?v=nLVYT7rq_KU

É importante apontar que um vasto capital oriundo dos Emirados Árabes é utilizado para realizar investimentos pelo mundo, sendo que diversos seguem a visão que o futebol merece uma atenção à parte e que o futuro do esporte pode ser altamente rentável, com um retorno acima do capital investido. Projetos como o de intenção de compra do Liverpool F.C. pelo Dubai International Capital (DIC) em 2006, a aquisição do Manchester City pelo Abu Dhabi United Group (ADUG) em 2008, e a possível futura aquisição do Charlton Athletics pelo grupo Zabeel Investments, precisam ser analisados em separado. Apesar da visão ser a mesma, o objetivo de projetos como sediar jogos internacionais, desenvolver o futebol praticado no país e construir a Dubai Sports City, usam o capital dos Emirados para desenvolver os Emirados Árabes como ponto mundial de referência no futebol, dando um caráter cultural para a ligação do país com o futebol e não apenas financeiro.

Em conclusão, o que é possível notar nos Emirados Árabes é uma forte observação e interesse pelo esporte mais praticado no mundo, com a utilização do amplo capital árabe para seguir os bem sucedidos modelos europeus e atender os mais altos níveis de qualidade. Entretanto, apesar dos Emirados Árabes olharem constantemente para o Ocidente para aprender sobre o futuro do futebol, o futuro do futebol pode estar na verdade dentro do próprio Emirado.

 

CIA:https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/ae.html#People

 

DUBAI SPORTS CITY: http://www.dubaisportscity.ae

 

EMIRATES NEWS AGENCY: http:www.wam.org.ae

 

FIFA: www.fifa.com 

 

SPORT SOLUTIONS: www.sportsolutions.ae

 

UAE NATIONAL MEDIA COUNSIL: www.uaeinteract.com

 

 

 

David Beckham no AC Milan

FUTEBOL E O MERCADO

David Beckham foi emprestado pelo LA Galaxy ao AC Milan. Trata-se de um jogador de qualidade que já participou de três Copas do Mundo, foi finalista em 99 e 2001 para o prêmio FIFA de melhor jogador do mundo e atuou em grandes clubes como Manchester United e Real Madrid. Porém, onde Beckham se destaca realmente é fora do campo. Eleito pela Forbes 15º no rol das personalidades mais influentes, sua imagem constitui uma marca por si só. Segundo a consultoria FutureBrand Beckham é um dos maiores nomes esportivos em termos de marketing e possui um valor estimado de U$334.5 milhões.

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Sua imagem é utilizada para vender diferentes tipos de produtos pelo mundo e principalmente no mercado asiático. O jogador chega ao ponto de ser uma ferramenta muito utilizada por empresas para penetrar o oriente. Com os clubes de futebol não é diferente. Muitos torcedores na Ásia acompanham um time por causa dos craques que este possui em seu elenco. Ter o David Beckham no time significa pregar a atenção de uma legião de fãs e influenciar seus hábitos de consumo.

 Beckham na Ásia: http://www.reuters.com/news/video?videoId=77653&feedType=VideoRSS&feedName=SportsLeisure&videoChannel=45 

Em 2006, após atuar no Real Madrid, o jogador partiu para um novo mercado. Apesar do baixo nível técnico do futebol norte-americano, o potencial comercial em atuar na terra de Hollywood era atrativo suficiente. Em uma negociação de U$ 250 milhões por cinco anos David Beckham se transferiu para o LA Galaxy. Antes mesmo de sua chegada, a pré venda de camisas atingiu 250 000 unidades. Na época o presidente do LA Galaxy, Alexi Lalas, declarou “os torcedores já compraram a camisa sem ao menos saber como elas vão ser”.

Após 18 meses no clube o jogador é emprestado ao AC Milan até Março de 2009. O LA Galaxy se beneficia com a transação no sentido que seu jogador (possivelmente) voltará em plena forma para a temporada 2009 da Major League Soccer. Entretanto, os efeitos financeiros já aparecem na medida em que um dos amistosos que o clube norte-americano tinha agendado para  o final do ano já precisou ser cancelado.

David Beckham se apresenta ao clube milanês em 7 de janeiro de 2009 com o propósito auto declarado de se manter em forma para a próxima temporada norte-americana. Adriano Galliani, presidente do AC Milan declarou: “ele escolheu o Milan e o clube mais premiado do mundo respondeu positivamente”. Mas nada no mundo do futebol é tão simples assim, ainda mais se tratando de um jogador no calibre de Beckham. Primeiramente vale analisar as razões que levaram o jogador escolher o clube AC Milan. Apesar do clube se declarar como “o mais premiado do mundo”, certamente a tradição do clube rossonero não foi a única motivação para a escolha do jogador inglês. Dentre alguns fatores pode-se citar:

  • Carreira: David Beckham jogou em dois dos três maiores campeonatos do continente europeu. Tendo jogado em grandes clubes da Inglaterra e Espanha, faltava ainda um time renomado na Itália. Atuando em um clube de nível e com exposição, o jogador mantêm ainda as chances de ser convocado para a seleção inglesa.
  • A esposa: É fato que mulheres de jogadores são capazes de influenciar fortemente as decisões dos maridos. Victoria Beckham, que é dona da grife de moda dVb que lançou sua nova coleção em maio desse ano,  com certeza não se incomodou em se mudar para Milão, a cidade da moda .
  • Motiva-se milionários com mais $: Por mais que um jogador como Beckham tenha contas bancárias abarrotadas, ganhar mais dinheiro é sempre atrativo. O jogador receberá seu salário que gira em volta de U$110 mil por semana e terá em suas mãos o mercado italiano de propaganda, um mercado no qual sua imagem ainda não foi tão gasta em comparação com outros países. Para completar, atuando na Europa, seu apelo no mercado asiático volta a aumentar devido a fraca penetração do campeonato norte americano possui no continente em comparação com o italiano.

Sim, David Beckham escolheu o AC Milan. Mas porque um time que já possui um elenco forte resolveu “responder positivamente”? Primeiramente existem as razões que se referem aos benefícios que a presença física do jogador em campo com o uniforme do AC Milan trazem para o clube:

  • Desempenho e público: Apesar da concorrência no AC Milan com outros jogadores, em boa forma Beckham é capaz de fazer parte da equipe titular. Trata-se de um bom jogador que pode contribuir tecnicamente para o desempenho da equipe. Além disso, tendo o jogador em campo ajuda a atrair torcedores para o estádio. Apesar do AC Milan estar contra a tendência do futebol italiano, conseguindo atrair públicos entre 50 000 e 60 000 para seu estádio, a capacidade de 80 000 do San Siro ainda está longe de ser alcançada. David Beckham em campo pode ajudar a atingir o potencial do estádio.

O segundo nível se refere aos benefícios ao clube que atuam sobre a imagem do jogador, independente de sua presença em campo. Conhecendo o rastro comercial que o jogador deixa pelos clubes onde passa é fácil destacar algumas razões:

  • Vendas e Mídia: Em uma semana a loja virtual do clube vendeu 1,5 mil camisas do Ronaldinho. Se os números continuarem assim o valor investido no jogador poderá ser pago somente com a venda de camisas. Com Beckham os resultados tendem a ser ainda melhores. Segundo o diretor de marketing do Real Madrid, Jose Angel Sanchez, “Beckham valeu para o clube mais de 600 milhões de dólares na venda de produtos de marketing”. O retorno de mídia que David Beckham associado ao AC Milan pode oferecer para o clube é ainda extremamente alto, podendo ajudar o clube a penetrar em mercados potenciais como o asiático.

O periódico Soccer Investor afirma que a transferência de Beckham para o AC Milan poderá render por volta de U$14 000 000. Sendo assim, levando em consideração que a proposta inicial é o jogador permanecer por 3 meses no clubes (até março, mês de início da temporada do LA Galaxy), e se o salário for considerado o mesmo pago nos Estado Unidos, o custo total com o jogador nao deve ultrapassar U$ 1,5 milhão. O possível lucro de cerca de U$ 10 milhões não é uma oportunidade que o clube vai deixar passar.

O clube do AC Milan se beneficia portanto de sua capacidade de atrair jogadores a medida que explora corretamente o que essas contratações tem a oferecer. Apesar de Galliani insistir que o Milan não contrata figurantes, uma das estratégias atuais do clube parece ser aquela uma vez adotada pelo real Madrid, contratando diversos jogadores de renome para seu elenco. A diferença é que o AC Milan opta por jogadores que estão fora de seu melhor nível de desempenho como Ronaldo, Ronaldinho e o próprio Beckham. Isso ocorre certamente porque as razões comerciais tendem a compensar qualquer nível de desempenho que esses jogadores podem vir a apresentar em campo.

Portanto, fica claro que a maioria das questões envolvendo a contratação por empréstimo de Beckham pelo AC Milan são de caráter comercial. Apesar do clube italiano ter apenas cerca de 5 meses para trabalhar a estratégia de marketing em cima do jogador, os ganhos financeiros e de mídia que podem ser alcançados são altos. Por outro lado as chances de manter o jogador após o empréstimo são consideravelmente baixas. O inglês possui contrato com o LA Galaxy e compromissos publicitários nos EUA, e no futebol quando se trata de um jogador com o calibre de Beckham, o dinheiro costuma falar mais alto.

 

AC MILAN: www.acmilan.com

ESPNSoccer.net: www.soccernet.espn.go.com

FUTUREBRAND: http://www.futurebrand.com

REUTERS: www.reuters.com

SOCCER INVESTOR: www.soccerinvestor.com

 

 

A Voz do Futebol

FUTEBOL E RESPONSABILIDADE SOCIAL

“Em uma nação como o Brasil, a contribuição do esporte para a integração social é especial. O sucesso do futebol tem sido uma força para unificar suas diversas partes e unificá-los através do orgulho nacional.” (J. Lever, 1983)

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No país onde segundo o IBGE um total de 46% da população vive abaixo do nível de pobreza a FIFA estima que existem 13 milhões de pessoas que jogam futebol. O forte interesse do povo no futebol é ainda fortemente impulsionado pela mídia, onde segundo a Informídia, 81% dos brasileiros acompanham o esporte. Os dois traços do país, a pobreza e o futebol, levam a crer que o segundo possa ser um eficiente instrumento para mudanças sociais no Brasil.

Os clubes de futebol, que possuem o contato mais imediato com a sociedade, seriam os grandes agentes dessa transformação. Mas infelizmente os problemas organizacionais dos clubes tornam muito difícil para eles pensarem além do pagamento da próxima folha de salários e mais difícil ainda para perceberem sua responsabilidade como cidadão corporativo.

Escolas de futebol fornecem um boa possibilidade para clubes serem socialmente responsáveis. O futebol em si trabalha para educação moral dos envolvidos e em alguns casos pode ser ainda acoplado um programa de educação primária ao cronograma. Apesar de benéficos, a decisão de implementar esses programas de educação deve ser bem pensada pois o objetivo principal dessas escolas deve ser a indentificação de talento e geração de lucros. Em um país onde 97,6% das crianças vão a escola mesmo com os altos índices de pobreza, o melhor que as escolas de futebol podem oferecer é uma profissão para milhares de garotos.

Os projetos de responsabilidade social linkados com clubes de má gestão trazem dificuldades para arrecadação de recursos. Esses projetos precisam ser auto-sustentáveis e isso fica altamente complicado se quem os administra não consegue manter as próprias finanças no azul.

Os projetos sociais ligados ao futebol e mais bem sucedidos no Brasil são intituições que utilizam o futebol brasileiro apenas como elemento de suporte para suas ações. Insitutos como o Gol de Letra, IDDC Dunga e Aldeia das Crianças usam o futebol e seus personagens para divulgar seus projetos de forma mais atraente para o público.

Em uma nação onde o futebol é tao poderoso, tendo até sido usado para desviar a atenção da população para problemas sociais durante o governo militar, o futebol adota um novo papel, de usar seu poder para chamar atenção para os problemas sociais do Brasil ao mesmo tempo em que forma profissionais da bola.

Enquanto os problemas estruturais dos clubes brasileiros persistirem esse é o modelo mais adequado a se seguir no Brasil. É necessária uma participação da indústria do futebol, formando parcerias com instituições, governo e sociedade e aproveitando a voz do futebol para unir a população em torno da consciência social e melhoria de vida dos brasileiros.

 

LEVER, J. (1983). ‘Soccer Madness: Brazil’s Passion for the World’s Most Popular Sport’. Waveland. Illonois, USA. 1983. pp.48

MILLER, R.; CROLEY, L. (2007). ‘Football in the Americas: Futbol, Futebol, Soccer’. Institute for the study of the Americas. London, UK. 2007. pp18;p212.

FIFA: www.fifa.com.br

IBGE: www.gov.br

GOL DE LETRA: www.goldeletra.org.br